Logo IFRJ

Mulheres gestoras: desafios e lutas

Como parte das lutas e eventos em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a Pró-reitoria de Ensino e a Pró-reitoria de Extensão organizaram o evento “Mulheres gestoras: desafios e lutas”, que aconteceu no dia 10/03, das 9h às 12, no auditório da Reitoria.

O evento debateu a importância da mulher no mundo de trabalho e na educação profissional, bem como os desafios que envolvem a posição de liderança de mulheres nesses espaços, a partir do relato de mulheres que atuam e trabalham como educadoras e gestoras públicas, no IFRJ. 

Participaram da mesa: a pró-reitora de Ensino, Alessandra Paulon; a pró-reitora de Extensão, Ana Luisa Soares (PROEX/IFRJ); a diretora-geral do Campus Duque de Caxias, Celiana Lima; a diretora de Ensino do Campus Mesquita, Grazielle Rodrigues, representando a diretora-geral do campus, Cristiane Henriques; a diretora-geral do Campus Realengo, Hélia Pinheiro; e a diretora-geral do Campus Pinheiral, Lívia Gil. Gleyce Figueiredo, diretora-geral do Campus São Gonçalo,mandou um depoimento por vídeo, uma vez que está de férias.

Durante a abertura, o reitor do IFRJ, Rafael Almada, parabenizou a todas por esse espaço de diálogo. “Acho que o debate de hoje nos dá um olhar diferenciado, pois a gente sabe o quanto é importante essa posição que vocês ocupam, o quanto vocês lideram, são pioneiras nesse processo. Se fizer um histórico das mulheres gestoras, ele vem crescendo ao longo dos anos, e eu acho que isso é extremamente válido e importante, essa ocupação desses espaços. Então, eu queria parabenizar todas as mulheres aqui presentes por esse mês tão importante, reafirmar o nosso compromisso com esse espaço também ser um espaço de troca. Vai ser muito importante para a gente ouvir vocês porque, por mais que nós homens digamos que vamos ouvir vocês e que podemos entender o papel das mulheres como gestora, só vocês mesmas para saber o que vocês tem que provar a todo momento. E eu acho que esse debate vai ser importante para isso e a gente vai aprender muito”, afirmou.

Cada uma das gestoras falou sobre a sua experiência, a partir de perfis, carreiras e gestões diversas. Segundo dados da OIT [Organização Internacional do Trabalho], da CAPES [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] e de outras organizações citadas pela pró-reitora Alessandra, as mulheres hoje são 52,2% no mercado de trabalho. A diferença salarial ainda existe: são cerca de 27% a menos na remuneração das mulheres, ainda que a lei de igualdade salarial do país tenha sido aprovada na década de 40. Nas empresas com mais de 100 pessoas, somente 32% delas têm política para as mulheres. 

“A gente precisa reverter esse quadro. Somos uma instituição que ainda não tem políticas claras para as mulheres. A gente precisa construí-las e constituí-las como uma cultura aqui dentro. Nós temos uma maioria feminina ocupando cargos nas áreas de pessoas ocupadas com ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Em dados da CAPES, somos hoje 60,3% da população que faz graduação nesse país e somos 55% das matrículas de mestrado e doutorado. Se isso não for suficiente para que entendam que nós podemos estar onde nós quisermos, se a gente pensar nos dados da plataforma Nilo Peçanha e da educação profissional e tecnológica, quando estávamos em 2018, nós éramos somente 47,11% do público da educação profissional. Hoje nós somos 55,15% em todos os níveis. No IFRJ, nós saltamos de 50,32% para 54,87% em 4 anos. Somos 977 servidoras, mas somente 182 delas em cargos de gestão. Os cargos mais baixos são aqueles de função gratificada menor, e muitas vezes nós estamos lá tocando esse barco. Somos em menor número ainda, mas chegando muito próximo: temos hoje cerca de 1147 homens trabalhando no Instituto Federal, mas somos 977 mulheres. Eu agradeço demais por fazer parte desse seleto grupo aqui. Nós mulheres somos, hoje, um terço do Colégio de Dirigentes. Ainda é pouco. Das 15 unidades, só 5 unidades são lideradas por mulheres”, destacou Alessandra. 

Gleyce Figueiredo, na mensagem direcionada aos presentes no evento, falou sobre sua experiência profissional e de como mulheres não são historicamente e socialmente formadas para o trabalho na esfera pública. “Nós somos formadas cultural e socialmente para o trabalho do cuidado na esfera privada. Desde criança, a gente cuida de pessoas da família que demandam cuidado, e esse é o trabalho que se realiza na esfera privada. É um trabalho invisível, que se repete diariamente. Ao contrário do trabalho desenvolvido numa gestão, na gestão da instituição federal de ensino, porque é um trabalho que se realiza na esfera pública e que demanda decisões de foro político, decisões políticas graves”, ponderou, dizendo ainda que um desafio que é muito importante é ter coragem de tomar a decisão de ser gestora. “Não é uma decisão simples, porque é uma decisão na qual nós nos vemos expostas diariamente. Estamos diariamente expostas às críticas, eventualmente aos elogios, mas geralmente muito mais às críticas”, afirmou.

Uma outra questão desafiadora apontada foi estar preparada para tomar decisões importantes. “Mulheres, no geral, têm uma percepção de que nunca estão suficientemente formadas para exercer o cargo de uma função. Então, uma autocrítica, uma auto exigência muito grande. E para além disso, precisamos ter cuidado permanente com a nossa saúde física e mental. Mas essa não é uma fala para desencorajar a servidora de tomar a decisão de ocupar cargos de gestão, é uma fala de encorajamento, mas uma fala consciente de encorajamento”, finalizou Gleyce.

Lívia Gil contou os desafios de ser mulher e estar à frente de um campus agrícola, como Pinheiral, em que a maior parte dos servidores e terceirizados são homens, e ainda assim se fazer ser ouvida e respeitada: “O desafio é muito grande para que haja esse respeito e para que eles acreditem nas determinações que a gente faz”. Além disso, por ser a primeira mulher a se tornar diretora-geral lá, Lívia contou que as expectativas das outras mulheres eram grandes sobre o que seria feito para melhorar a infraestrutura para elas. “No campus Pinheiral, por ser agrícola, tem alojamento, mas só tem o alojamento masculino, não temos alojamento feminino. Logo que assumi a direção, a primeira coisa que me perguntaram foi ‘Cadê o alojamento feminino?’. É uma sensação de ter uma responsabilidade que a comunidade colocou em mim porque, até então, não tinha tido nenhuma mulher, então acham que eu venho resolver todos os problemas que afetam as mulheres. Mas, apesar de ser mulher, eu não sou a Mulher Maravilha, não tenho super poder para resolver todos os problemas”, brincou, ressaltando que as mulheres devem permanecer unidas e darem apoio umas às outras quando uma delas resolver falar e se posicionar: “Às vezes, pode ser muito solitário ser mulher na gestão. Eu acho importante podermos contar com o apoio umas das outras”, afirmou.

Grazielle Rodrigues enfatizou que nas áreas exatas - ela é formada em Física - as mulheres ainda sofrem muito preconceito e assédio e, por isso, muitas vezes não conseguem se enxergar como pertencentes a esse espaço acadêmico e profissional. “Ainda é uma área onde há uma preponderância muito grande de homens e um preconceito muito grande em relação às mulheres. E eu vivo isso com as minhas alunas da graduação, que trazem algumas questões para a gente conversar. É muito triste ouvir que têm meninas que já sofreram assédio de professores. A gente já passou por muita coisa e nós não tínhamos noção do que estávamos vivenciando. Nós dávamos um sorriso, nós aceitávamos aquilo, porque normalizávamos. Hoje nós temos noção, e as nossas meninas que estão na graduação também sabem disso, mas elas não sabem como reagir. Isso precisa ser modificado, isso não pode permanecer, até porque hoje nós já temos políticas públicas, já temos discussões e espaços como esses, justamente para que isso possa ser modificado, para que essas meninas se sintam pertencentes a esses diferentes espaços onde elas ainda se sentem em desprestígio e sendo desvalorizadas”, refletiu.

Celiana Lima trouxe para a discussão a necessidade de as mulheres conseguirem dizer não. “Nós enfrentamos jornada tripla, porque a gente faz a gestão da nossa casa, a gente faz a gestão da instituição e a gente faz a maternidade. E não é fácil. Eu acho que um dos grandes aprendizados que a gestão me deu é dizer não. E como é libertador! Mulheres, digam não. Digam não aos seus maridos, digam não aos seus filhos. Porque infelizmente quando a gente nasce mulher, é discriminação na veia. A gente tem que lutar contra isso diariamente quando se entende mulher. E essa questão do cuidar é muito adoecedora, porque você vai cuidando e quando vê, você está cuidando o dia inteiro de tudo, de todos. E se você não tem ao seu lado um parceiro ou uma parceira que vai cuidar de você também, é adoecedor mesmo. Eu acho que eu aprendi muito a dar meu limite e a dizer meu não para muitas coisas”, afirmou.

A diretora-geral de Duque de Caxias também ressaltou a importância de se fazer ouvir e ser reconhecida por suas ideias. “Vemos sempre situações em que a gente pede a fala, dizemos algo, aí o colega do sexo masculino em seguida pede a fala, fala a mesma coisa com outras palavras, e quem está conduzindo a reunião só concorda com a fala porque ouviu um colega do sexo masculino dizer. Então, homens, quando a gente fala e vocês concordam com o que a gente está falando, falem ‘Legal, vamos fazer isso então, vamos pensar. Quem mais quer falar, contribuir com essa questão, para podermos construir algo bom institucionalmente?’ Porque a gente não está ali para competir, a gente quer construir uma instituição melhor para todas e todos”, argumentou.

Hélia Pinheiro disse que o Campus Realengo tem maioria de mulheres, tanto entre servidoras, quanto entre alunas, por ser um campus voltado para a área da saúde. Ela ressaltou que a luta por igualdade de gênero ainda é diária e que a conciliação entre vida profissional e pessoal, a falta de representatividade em cargos de liderança e a necessidade de políticas públicas que promovam a equidade são questões que precisam ser debatidas e enfrentadas. “É fundamental que todos nós, independente de gênero, nos unamos para apoiar, promover e respeitar a presença feminina em todos os setores. O diálogo aberto sobre as experiências e desafios enfrentados por mulheres no IFRJ e em outras instituições, como estamos vivenciando nesta manhã, é um passo importante, uma iniciativa ímpar. Ao ouvir e valorizar as vozes das representantes e gestoras, podemos contribuir para um ambiente onde todas as mulheres tenham a oportunidade de brilhar e liderar. Que possamos celebrar as conquistas, reconhecer os desafios e trabalhar juntos para um futuro onde a igualdade de gênero seja uma realidade em todos os espaços”, aspirou a diretora.

ACESSO À INFORMAÇÃO

INSTITUCIONAL

REITORIA

CURSOS

PROCESSO SELETIVO / CONCURSO

EDITAIS

ACADÊMICO

PESQUISA & INOVAÇÃO

CAMPI

CENTRAL DE CONTEÚDOS